Um dia histórico

Com a firme atuação das instituições, avançou a marcha cujo destino é depurar a política, vencer a crise moral e ética e repor a supremacia do interesse público na gestão do Estado

A democracia brasileira viveu ontem um dia histórico. Com a força e a firme atuação das nossas instituições, avançou a marcha cujo destino é depurar a política, vencer a crise moral e ética e restaurar a supremacia do interesse público na gestão do Estado brasileiro. É preciso ir fundo para que todos os responsáveis pelo assalto aos cofres públicos que se tornou norma no país nos últimos anos paguem pelo que fizeram.

O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, foi preso com base numa gravação em que trama contra a apuração dos escândalos na Petrobras. O plano era evitar a delação de Nestor Cerveró, ex-diretor da estatal, promover sua saída do país e garantir-lhe uma mesada de R$ 50 mil como recompensa por não ter entregado os comparsas à Justiça. Uma estratégia, portanto, voltada a mostrar que o crime compensa. “Práticas tipicamente mafiosas”, na precisa definição do procurador Rodrigo Janot.

Junto com o senador líder do governo Dilma, foi preso o banqueiro André Esteves. Há quem sustente que sua prisão pode gerar “risco sistêmico” ao mercado financeiro, ameaçar o ajuste fiscal e agravar a crise econômica. Como se a saúde econômica do país prescindisse de instituições fortes, de um ambiente saudável e ético… Nada disso!

Numa sessão histórica, acompanhada em todo o país como se fosse uma partida decisiva de futebol, o Senado manteve a prisão de Delcídio. Horas antes, a pressão dos partidos de oposição fizera prevalecer a votação aberta e não secreta. Ainda assim, 13 senadores, dos quais 9 do PT, votaram pela libertação do líder do governo.

Decisiva, também, foi a postura do Supremo, dando firme apoio ao cumprimento da prisão determinada pela Lava Jato. Foi mais uma demonstração da força das instituições do Estado brasileiro, esteio que vai garantir ao país superar o momento de dificuldade que revolta a todos, dar fim a este ciclo perverso e iniciar uma nova etapa, pautada na ética.

Um dos aspectos mais importantes das revelações que vieram a público ontem é jogar nova luz sobre a ruinosa compra da refinaria de Pasadena, que gerou prejuízo de quase US$ 800 milhões aos cofres públicos. Nas anotações que constituem parte de sua delação premiada, Cerveró não deixa margem a dúvidas: Dilma “sabia de tudo“. Que se investigue a fundo, portanto.

Junte-se a isso o fato de que, até ontem, Delcídio era o líder do governo Dilma no Senado. Ou seja, tinha mandato do Palácio do Planalto para falar em nome da presidente da República. O que permite fazer a seguinte indagação: Até que ponto o que foi tratado na conversa gravada pelo filho de Cerveró também estava avalizado pela chefe petista?

Resta claro que esta gente não respeita as instituições, se lixa para a Constituição e acha que pode manipular decisões da Justiça, do Ministério Público ou da Polícia Federal. Acha que o Estado é propriedade de um partido e de seus aliados no núcleo de poder. Esta gente não entendeu o que é viver numa democracia e respeitar regras que devem valer para todos. É possível que ontem, finalmente, tenha lhes caído a ficha.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

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JORGE RORIZ