ANÁLISE DO DISCURSO DE BOLSONARO

Desnecessário, mentiroso e criminoso
Bolsonaro fez o quinto pronunciamento em cadeia de rádio e TV. Está seguindo o conselho de Olavo de Carvalho de falar diretamente com o povo para driblar a mídia. Não deu nenhuma informação nova. Foi só mesmo para sabotar o isolamento, mentir e receitar a cloroquina como milagre.
Leia a íntegra do pronunciamento comentada:
“Boa noite
Vivemos um momento ímpar em nossa história.
Ser Presidente da República é olhar o todo, e não apenas as partes. Não restam dúvidas de que o nosso objetivo principal sempre foi salvar vidas.
Gostaria, antes de mais nada, de me solidarizar com as famílias que perderam seus entes queridos nesta guerra que estamos enfrentando”.
Autor: AUGUSTO DE FRANCO ( retirado do Facebook)
“Boa noite
Vivemos um momento ímpar em nossa história.
Ser Presidente da República é olhar o todo, e não apenas as partes. Não restam dúvidas de que o nosso objetivo principal sempre foi salvar vidas.
Gostaria, antes de mais nada, de me solidarizar com as famílias que perderam seus entes queridos nesta guerra que estamos enfrentando”.

Instado por seus auxiliares, é a primeira vez que ele faz isso: antes tarde do que nunca.

Instado por seus auxiliares, é a primeira vez que ele faz isso: antes tarde do que nunca.

“Tenho a responsabilidade de decidir sobre as questões do País de forma ampla, usando a equipe de ministros que escolhi para conduzir os destinos da Nação. Todos devem estar sintonizados comigo”.

Recado de que é ele que manda em Mandetta.

“Sempre afirmei que tínhamos dois problemas a resolver, o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados simultaneamente.
Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas, de forma restritiva ou não, são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O Governo Federal não foi consultado sobre sua amplitude ou duração. Espero que brevemente saiamos juntos e mais fortes para que possamos melhor desenvolver o nosso país”.

A saúde é atribuição das unidades federativas, não do governo central. Bolsonaro quer jogar no colo dos governadores e prefeitos a responsabilidade pela crise econômica gerada pelas corretas medidas de isolamento. quer dizer, de distanciamento social adotadas. Além disso, não é uma questão de respeito: ele não revoga decisões dos governadores não porque não queira (como já ameaçou fazer várias vezes, por meio de um decreto), e sim porque não pode: decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal proibiu-o de fazê-lo. E outra decisão da semana passada, proibiu-o de fazer campanha publicitária pelo fim do isolamento.

“Como afirmou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, cada país tem suas particularidades, ou seja, a solução não é a mesma para todos. Os mais humildes não podem deixar de se locomover para buscar o seu pão de cada dia”.

Juntadas assim, no mesmo parágrafo, duas frases sem conexão lógica, dá a falsa impressão de que o OMS aprova que o Brasil rompa o isolamento para que os mais humildes possam sair para trabalhar e para comer.

“As consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a própria doença. O desemprego também leva à pobreza, à fome, à miséria, enfim, à própria morte. Com esse espírito, instruí meus ministros”.

Sabotagem clara ao isolamento adotado por estados e municípios. Ele quer dizer que o distanciamento social e a orientação de ficar em casa vão levar à morte. Está estimulando criminosamente as pessoas a romperem com as orientações do seu próprio Ministério da Saúde.

“Após ouvir médicos, pesquisadores e Chefes de Estado de outros países, passei a divulgar, nos últimos 40 dias, a possibilidade de tratamento da doença desde sua fase inicial”.

É mentira! Dá a impressão de que os chefes de Estado e a comunidade científica aprovam aplicar a cloroquina indistintamente logo que aparecerem os primeiros sintomas, quando isso não é verdade. A cloroquina, combinada com outras medicações, está sendo usada como tratamento experimental, em alguns casos, por indicação médica, não por orientação geral governamental de política de saúde. A imensa maioria da comunidade científica não aprova o seu uso em larga escala como tratamento único ou prioritário de vez que não há comprovação científica de sua eficácia. Ele não menciona que pelo menos 10 outros remédios e tratamentos estão sendo usados na mesma condição, por razões humanitárias, em fases graves da doença ou não; por exemplo: enoxaparina, remdesivir, lopinavir + ritonavir, darunavir + ritonavir, tocilizumab, ruxolitinibe, ivermictina, favilavir, transfusão de plasma de doentes curados etc.

“Há pouco, conversei com o Dr. Roberto Kalil. Cumprimentei-o pela honestidade e compromisso com o Juramento de Hipócrates, ao assumir que não só usou a Hidroxicloroquina, bem como a ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos”.

A amostra dos pacientes de Kalil é pequena para embasar recomendação científica. Ao dizer, que “todos estão salvos”, dá a falsa impressão de que o remédio funciona como panaceia.

“Disse-me mais: que, mesmo não tendo finalizado o protocolo de testes, ministrou o medicamento agora, para não se arrepender no futuro. Essa decisão poderá entrar para a história como tendo salvo milhares de vidas no Brasil. Nossos parabéns ao Dr. Kalil”.

Novamente a croloquina é considerada como a salvadora de milhares de vidas, antes de comprovação científica.

“Temos mais boas notícias. Fruto de minha conversa direta com o Primeiro-Ministro da Índia, receberemos, até sábado, matéria-prima para continuarmos produzindo a hidroxicloroquina, de modo a podermos tratar pacientes da COVID-19, bem como malária, lúpus e artrite. Agradeço ao Primeiro-Ministro Narendra Modi e ao povo indiano por esta ajuda tão oportuna ao povo brasileiro”.

Noticia velha.

“A partir de amanhã, começaremos a pagar os R$ 600,00 de auxílio emergencial para apoiar trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores durante três meses”.

Notícia velha.

“Concedemos, também, a isenção do pagamento da conta de energia elétrica aos beneficiários da tarifa social, por 3 meses, atendendo a mais de 9 milhões de famílias que tenham suas contas de até R$ 150,00”.

Notícia velha.

“Disponibilizamos 60 bilhões via Caixa Econômica Federal para capital de giro destinados a micro, pequenas e médias empresas e à construção civil”.

Notícia velha.

“Os beneficiários do Bolsa Família, que são quase 60 milhões de pessoas, também receberão um abono complementar do Auxílio Emergencial”.

Notícia velha.

“Autorizamos, ainda, para junho, um saque de até R$ 1.045,00 aos que têm conta vinculada ao FGTS”.

Notícia velha.

“Repatriamos mais de 11 mil brasileiros que estavam no exterior, num esforço capitaneado pelo Itamaraty, Ministério da Defesa e Embratur”.

Notícia velha. Ademais, esqueceu de dizer que muitos desses 11 mil brasileiros repatriados pagaram suas próprias passagens.

“Tenho certeza de que a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar”.

Sabotagem explícita do isolamento. E a frase é mentirosa: a mais recente pesquisa de opinião do Datafolha apurou que para 76% dos brasileiros, mais importante neste momento é deixar as pessoas em casa. Só 18% seguem a orientação de Bolsonaro de quebrar o isolamento.

“Esta sempre foi minha orientação a todos os ministros, observadas as normas do Ministério da Saúde”.

Sim, foi a orientação de Bolsonaro, não cumprida até agora (felizmente) pelo seu ministro da Saúde.

“Quando deixar a Presidência, pretendo passar ao meu sucessor um Brasil muito melhor do que aquele que encontrei em janeiro do ano passado”.

Ele não disse que não é candidato. Disse que ele pode deixar a presidência, em 2023 ou em 2027. Mentirosamente quer deixar no ar a ideia de que não age por motivos eleitorais, para inculpar os governadores por estarem fazendo isso – como se fosse ilegítimo.

“Sigamos João 8:32: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará!””

Chega a ser um escárnio – e uma blasfêmia – terminar com um verso evangélico sobre a verdade um discurso em que mentiu deliberadamente para tentar levantar a opinião pública contra as corretas medidas de distanciamento social recomendadas pelo seu próprio ministro da saúde, pela maioria dos governadores e prefeitos e que conta com a aprovação da maioria esmagadora da população.

“Desejo a todos uma Sexta-Feira Santa de reflexão e um Feliz Domingo de Páscoa!
Deus abençoe o nosso Brasil!”

Não foi um pronunciamento de utilidade pública. Todas as notícias já havia sido divulgadas. Foi um pronunciamento para sabotar o distanciamento social, estimulando o povo a sair para as ruas, contrariando o que disse até hoje o Ministério da Saúde, os governadores e prefeitos, a maioria dos chefes de Estado de outros países e a comunidade científica mundial. Foi sabotagem. Foi crime. Não é despropositado esperar que amanhã – estimulados pela sabotagem de Bolsonaro – existam mais pessoas nas ruas.

JORGE RORIZ