Após ataques de Bolsonaro, China atrasa o envio do IFA

Insumos para 18 milhões de doses da CoronaVac estão parados na China, diz Doria

O governador João Doria (PSDB) participou na tarde desta segunda-feira (10) de uma cerimônia para o início da vacinação de pessoas com Síndrome de Down no estado de São Paulo. Após o evento Doria conversou com jornalistas e afirmou que 10 000 litros de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) para a produção da vacina CoronaVac estão parados na China.

Na última semana o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que a partir da sexta (14) a fabricação da vacina pode ser paralisada: os insumos recebidos da China chegarão ao fim e a instituição depende da chegada de mais IFA para seguir com a produção. De acordo com o governador, o insumo está parado nos refrigeradores do laboratório Sinovac, no país asiático.

“O governo da China não autorizou o embarque. Há um problema diplomático, que se dá pelas manifestações erráticas do governo federal”, disse Doria. “Temos 10 000 litros [parados], o que corresponde a quase 18 milhões de doses”. Na quarta-feira passada o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chamou a pandemia de “guerra química”, insinuando que quem estaria por trás da suposta “guerra” seria a China.

Até o fim desta semana o Butantan deve finalizar a entrega da primeira parte dos imunizantes acordados com o governo federal, totalizando 46 milhões de doses. O início da próxima etapa, de 54 milhões de doses até agosto, depende da chegada de mais IFA. “Após isso [14 de maio] não temos mais matéria-prima”, disse Dimas Covas na semana passada.

: “A informação que temos é que já existem dez mil litros de insumos prontos na Sinovac aguardando autorização do governo da China para embarque. E, cada vez, repito, que manifestações são feitas aqui de forma desairosa, desrespeitosa, em relação à China isso cria dificuldades claramente para autorização do governo chinês para o embarque desses insumos para o Brasil. O mesmo laboratório Sinovac disponibiliza insumos para um país vizinho aqui, o Chile, que não agride a China, que não tem o seu presidente falando mal do governo chinês, do povo chinês, da China e nem da sua vacina. E o fluxo é normal de entrega desses insumos para o Chile. Por que não é para o Brasil?”

Das 18 milhões de doses de vacinas prontas que o Chile recebeu desde janeiro, 15 milhões vieram da Sinovac e ajudaram o país a entrar no seleto grupo das nações que já vacinaram quase metade do público-alvo contra a Covid. O governo chileno nunca relatou atraso na entrega da vacina.

Durante a reunião, a embaixada da China cobrou do governo brasileiro manifestações públicas de apoio. Reclamou que os frequentes ataques colocam a China numa posição desconfortável junto à comunidade internacional e deixou claro que, se nada for feito, não haverá empenho na liberação do IFA.

JORGE RORIZ