Chore por nós, Argentina

A vitória de Mauricio Macri na Argentina pode representar um primeiro passo para a derrocada dos regimes populistas, que tão mal têm feito à América Latina

Acabou ontem um dos mais longevos governos populistas da América Latina na história recente. A vitória de Mauricio Macri põe fim a três mandatos da família Kirchner, durante os quais a Argentina afundou numa crise econômica e social que parecia ter ficado no passado. Oxalá, signifique uma nova onda no continente, com reflexos diretos no Brasil.

Macri derrotou o candidato da situação, Daniel Scioli, com 51% dos votos válidos. A Argentina é exemplo de que o Brasil também pode sonhar com uma virada no seu rumo político. Quarenta dias atrás, o candidato kirchnerista recebeu apoio de Dilma Rousseff em Brasília. Pode ter sido a pá de cal em suas pretensões perante os eleitores argentinos…

O novo presidente argentino herdará um país muito parecido com o Brasil de hoje: em recessão, às voltas com inflação, aumento do desemprego e da pobreza, com violência ascendente. Uma das poucas diferenças está no fato de que a Argentina foi ainda mais longe e se isolou do mercado internacional de crédito. Não chegamos a tanto.

Lá como aqui, o candidato da situação usou as mesmas armas retóricas que o petismo empregou para vencer a eleição do ano passado. Transformou adversários em inimigos. Abusou da estratégia do medo, segundo a qual só o atual governo garantiria as conquistas sociais. O problema é que, tal como aqui, o presente dos argentinos já virou um inferno.

A vitória de Macri pode representar um primeiro passo para a derrocada dos regimes populistas na América Latina. No mês que vem, há eleições legislativas na Venezuela, com chances reais de o poder de Nicolás Maduro diminuir – tanto que o chavista impediu a presença de observadores estrangeiros.

A onda populista fez muito mal ao continente. Em sua maior parte, os países latino-americanos deixaram de aproveitar a bonança global criada com a alta recorde dos preços de commodities. Seu ritmo de crescimento, que se acelerara na década passada, já retrocede: segundo a Cepal, o PIB do continente deve cair 0,3% neste ano, travado principalmente pelo Brasil.

Com a vitória de Macri, abre-se, também, a possibilidade de o Mercosul voltar a integrar-se ao mundo. Durante anos, a retórica protecionista deu as cartas, tanto em Buenos Aires quanto em Brasília, e isolou o bloco do resto do mundo. O resultado foi a anemia econômica e a irrelevância geopolítica.

O fim de ciclo que a Argentina, para sua felicidade, experimenta hoje talvez só não tenha acontecido no Brasil um ano atrás porque foram usadas armas espúrias para garantir a vitória de Dilma Rousseff. Assim como os argentinos conseguiram reencontrar o bom caminho, os brasileiros ainda lutam na Justiça para fazer prevalecer a vontade popular usurpada. Enquanto não conseguirmos, que a Argentina chore por nós.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

CHORE POR NÓS, ARGENTINA 

Carta de Formulação e Mobilização Política – Segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A vitória de Mauricio Macri na Argentina pode representar um primeiro passo para a derrocada dos regimes populistas, que tão mal têm feito à América Latina

Acabou ontem um dos mais longevos governos populistas da América Latina na história recente. A vitória de Mauricio Macri põe fim a três mandatos da família Kirchner, durante os quais a Argentina afundou numa crise econômica e social que parecia ter ficado no passado. Oxalá, signifique uma nova onda no continente, com reflexos diretos no Brasil.

Macri derrotou o candidato da situação, Daniel Scioli, com 51% dos votos válidos. A Argentina é exemplo de que o Brasil também pode sonhar com uma virada no seu rumo político. Quarenta dias atrás, o candidato kirchnerista recebeu apoio de Dilma Rousseff em Brasília. Pode ter sido a pá de cal em suas pretensões perante os eleitores argentinos…

O novo presidente argentino herdará um país muito parecido com o Brasil de hoje: em recessão, às voltas com inflação, aumento do desemprego e da pobreza, com violência ascendente. Uma das poucas diferenças está no fato de que a Argentina foi ainda mais longe e se isolou do mercado internacional de crédito. Não chegamos a tanto.

Lá como aqui, o candidato da situação usou as mesmas armas retóricas que o petismo empregou para vencer a eleição do ano passado. Transformou adversários em inimigos. Abusou da estratégia do medo, segundo a qual só o atual governo garantiria as conquistas sociais. O problema é que, tal como aqui, o presente dos argentinos já virou um inferno.

A vitória de Macri pode representar um primeiro passo para a derrocada dos regimes populistas na América Latina. No mês que vem, há eleições legislativas na Venezuela, com chances reais de o poder de Nicolás Maduro diminuir – tanto que o chavista impediu a presença de observadores estrangeiros.

A onda populista fez muito mal ao continente. Em sua maior parte, os países latino-americanos deixaram de aproveitar a bonança global criada com a alta recorde dos preços de commodities. Seu ritmo de crescimento, que se acelerara na década passada, já retrocede: segundo a Cepal, o PIB do continente deve cair 0,3% neste ano, travado principalmente pelo Brasil.

Com a vitória de Macri, abre-se, também, a possibilidade de o Mercosul voltar a integrar-se ao mundo. Durante anos, a retórica protecionista deu as cartas, tanto em Buenos Aires quanto em Brasília, e isolou o bloco do resto do mundo. O resultado foi a anemia econômica e a irrelevância geopolítica.

O fim de ciclo que a Argentina, para sua felicidade, experimenta hoje talvez só não tenha acontecido no Brasil um ano atrás porque foram usadas armas espúrias para garantir a vitória de Dilma Rousseff. Assim como os argentinos conseguiram reencontrar o bom caminho, os brasileiros ainda lutam na Justiça para fazer prevalecer a vontade popular usurpada. Enquanto não conseguirmos, que a Argentina chore por nós.

 Instituto Teotônio Vilela

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JORGE RORIZ