Foram mais de 16 horas de depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid em dois dias. Segundo levantamento do relator da comissão, Renan Calheiros, Pazuello mentiu ou se contradisse pelo menos 14 vezes.
O senador Renan Calheiros sugeriu que a CPI contrate um serviço de checagem de informações para municiar os senadores com informações em tempo real durante as falas.
“Uma varredura das mentiras ou das verdades que estão sendo pronunciadas aqui. Para que vossa excelência tenha uma ideia, nós já tivemos uma primeira amostragem dessas contradições, inverdades e omissões. O depoente, em uma, duas, três, cinco, seis, sete. Em 14 oportunidades, mentiu flagrantemente, ousou negar suas próprias declarações. Só se é uma nova cepa o que estamos vendo aqui, a negação do negacionismo. É tripudiar da investigação, da Comissão Parlamentar de Inquérito. É imaginar que palavras são jogadas ao vento, a qualquer circunstância, em qualquer lugar”, contestou o relator.
Os pontos levantados por Renan Calheiros tratam dos principais temas da CPI, como, por exemplo, as responsabilidades sobre o descontrole da pandemia no país.
Sobre isso, Renan Calheiros destacou que Pazuello tentou eximir o presidente Jair Bolsonaro de qualquer responsabilidade por eventuais erros na pandemia, mesmo depois de várias demonstrações públicas do contrário.
“Um manda e outro obedece”, afirmou Pazuello em vídeo com Bolsonaro.
Ao ser questionado sobre essa fala, o ex-ministro disse que era apenas um jargão para discussões de internet.
Mas, na interpretação de Renan Calheiros, “se essa desculpa pudesse prevalecer, seria impossível a esta CPI avaliar as ações do ministério e do governo, pois as declarações públicas não serviriam de nada”.
Outro destaque do relator mostra que Eduardo Pazuello afirmou que as ações federais na pandemia foram limitadas por decisão do Supremo Tribunal Federal.
“A decisão do STF em abril de 2020 limitou ainda mais a atuação do governo federal nessas ações”, afirmou o ex-ministro.
Mas o documento elaborado pelo relator lembra que em nenhum momento o Supremo proibiu ou limitou ações federais. A decisão permite que estados e municípios tomem suas medidas, mas não impede que o Ministério da Saúde tome as suas.
Renan disse ainda que o STF impediu, com aquela decisão, que o presidente “sabotasse” as medidas de fechamento do comércio e a redução de circulação, que tantas vidas salvou.
O documento cita que o ex-ministro alegou que o Brasil é o quarto país que mais vacina no mundo.
Em números absolutos, atualmente, o Brasil é o quinto país que mais vacinas aplicou no mundo.
Segundo o documento, não faz sentido comparar números absolutos. O que importa é imunização percentual, ou seja, quantos por cento da população receberam a vacina.
Nosso ritmo é um dos mais lentos do mundo e, nesta quinta-feira (20), menos de 20% dos brasileiros receberam pelo menos uma dose de vacina. O Brasil ocupa a posição 58 entre todos os países considerando o número de doses aplicadas proporcionalmente à população.
Outra preocupação da lista de Renan Calheiros são os gastos públicos com a cloroquina, mesmo depois de comprovado cientificamente que o remédio não é eficaz contra a Covid.
Renan lembrou que Pazuello afirmou que a cloroquina é um antiviral e um anti-inflamatório, mas o relator destaca que, na verdade, o medicamento é um antimalárico, utilizado no combate ao plasmódio da malária, que é um protozoário.
Na quarta-feira (19), o ex-ministro disse que o medicamento foi usado no tratamento do zika vírus, em 2016.
“Em 2016, na crise do zika vírus, ela foi utilizada e foi colocada como protocolo pelo Ministério da Saúde, cloroquina em altas doses – isso para grávidas”, afirmou Pazuello.
Mas o relator lembrou que nunca houve administração de cloroquina para pacientes contaminados pelo zika vírus. E disse que “a afirmação de Pazuello servia para confundir, para tentar passar uma ideia de versatilidade à cloroquina e, assim, tentar justificar o uso para outras doenças”.
Ainda entre os destaques do relator, estão as declarações de Pazuello sobre a compra de vacinas, como as da Pfizer e a CoronaVac, do Butantan; o aplicativo do Ministério da Saúde que recomendava tratamento precoce da doença; e a crise de oxigênio em Manaus.
O relator diz que faltou oxigênio na cidade de Manaus por mais de 20 dias e que “o governo federal sabia do ‘iminente colapso do sistema de saúde’ do Amazonas 10 dias antes de a crise estourar e faltar oxigênio para pacientes no estado”.
Como não houve pergunta direta ao ex-ministro sobre a lista de contradições e mentiras, ele não se defendeu e os senadores governistas também não reagiram.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz, pediu que Renan Calheiros faça um relatório preliminar, a ser enviado aos membros da CPI, com um resumo do primeiro mês de trabalho.
Renan Calheiros deve incluir no documento todos os depoimentos colhidos até o momento e as questões que ainda permanecem sem resposta.