Especialista aponta condutas fisioterapêuticas que contribuem para o controle da doença que afeta 20 milhões de brasileiros e leva a mais de 2 mil óbitos todos os anos

Falta de ar, cansaço, tosse, chiado no peito, desconforto torácico. Sintomas respiratórios têm ocupado a centralidade dos debates e noticiários, desde o início da pandemia. O novo coronavírus e as mais de 420 mil mortes registradas por SARS-CoV-2 no Brasil, acenderam um alerta importante a sinais como tosse e dispneia, comuns também a outras doenças.

 

Mas como evitá-las, diferenciá-las e encontrar as melhores opções de tratamento? No caso da asma – que provoca a inflamação e consequente estreitamento dos brônquios – a dificuldade respiratória é uma condição que acompanha os pacientes, muitas vezes, de forma persistente, e a exposição a “gatilhos” – como poeira, ácaros, fungo, pólen, fumaça de cigarro, pelo de animais e mudanças bruscas de temperatura – pode desencadear complicações, comprometendo a qualidade de vida. Dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, revelam que a asma é a 4ª causa de internação no Brasil, levando a mais de 2 mil óbitos todos os anos.

 

De acordo com especialistas, entretanto, condutas e técnicas fisioterapêuticas podem contribuir para o controle da doença. Segundo o professor Vinicius Afonso Gomes, da UNIFACS, graduado em fisioterapia e mestre em Medicina e Saúde Humana, intervenções fisioterapêuticas podem ser realizadas tanto no acompanhamento profissional pré-crise, para reduzir o desconforto respiratório e proporcionar condicionamento ao paciente, quanto no posicionamento durante a crise aguda. “No paciente que tem asma, mas não está em crise, podemos fazer treinamento muscular inspiratório, que é uma técnica na qual a gente utiliza um dispositivo e gera uma resistência para os músculos respiratórios”, explica Vinicius Gomes, que destaca também a importância de exercícios supervisionados.

 

“A gente vai utilizar várias modalidades, como esteira, bicicleta, caminhada, em uma intensidade que vai de leve a moderada. Esse tipo de exercício, juntamente com o exercício resistido, feito com pesos, gera um condicionamento periférico no paciente. Esse tipo de trabalho é preventivo, para que, no momento de uma crise, ela venha amena e ele [o paciente] consiga passar por ela mais tranquilamente”, afirma o professor e fisioterapeuta.

 

Crise asmática

Na forma aguda da doença – aponta Vinicius Gomes – o paciente não deve fazer nenhuma atividade que exija esforço. “Não é aconselhável fazer nenhum tipo de conduta ativa, ou seja, não vou exercitar ele, não vou colocá-lo para caminhar, fazer treinamento, pelo contrário; a gente precisa dar repouso. Mas esse repouso pode vir com um posicionamento, porque o posicionamento é fundamental para uma boa respiração. Caso esse paciente apresente secreção nas vias aéreas, a fisioterapia tem uma série de técnicas que auxiliam a remoção de secreção, e tem também um dispositivo que a gente usa muito chamado ventilação não-invasiva, que é como se fosse um respirador mecânico, só que o paciente não precisa ser entubado”, observa o especialista quanto às técnicas e intervenções terapêuticas nos casos de maior gravidade.

 

Segundo o professor, a fisioterapia tem como foco principalmente a capacidade funcional, a diminuição dos desconfortos respiratórios e a redução de sintomas que impactam diretamente na qualidade de vida dos pacientes.

 

Cuidados necessários

A orientação, na pandemia, – destaca fisioterapeuta – é para que os cuidados preventivos, como uso da máscara, distanciamento social e higienização frequente das mãos sejam redobrados, e não apenas isso; o fisioterapeuta recomenda que pacientes asmáticos evitem, ao máximo, exposição a “gatilhos”, como pó de serra, poeira, inseticida, que possam intensificar as crises. “É um cuidado redobrado, triplicado, que a pessoa precisa ter. Não só com a contaminação, mas com a exposição aos alérgenos. É buscar, nesse momento, ao máximo, fugir deles”, ressalta Vinicius Gomes.

 

“A fisioterapia é uma ciência que estuda, previne e trata distúrbios cinético-funcionais. Como fisioterapeuta, estou interessado principalmente em saber se a asma traz falta de ar, dor torácica, impactos nas atividades de vida diária do meu paciente. O profissional fisioterapeuta precisa abrir o foco para a doença, mas ficar atento sobretudo às limitações que essa doença pode trazer. A asma tem níveis, são diferentes. É muito importante que o profissional se atente às particularidades e avalie cada paciente de forma individualizada”, salienta o professor da UNIFACS.

JORGE RORIZ