Implosão do Poder Executivo já começou

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

 

.“No desgoverno caótico do capitão Bolsonaro, o Poder Executivo está parando de funcionar ou não funciona mais”, escreve o sociólogo Marcos Coimbra. “Com seus desvios de personalidade, caráter e formação, o capitão promove a dissolução, de dentro para fora, do poder que nominalmente chefia. Seu desejo é fazer o mesmo com o Legislativo e o Judiciário”

O sistema político brasileiro tende a um colapso profundo e rápido. O principal motivo para isso é a implosão do Poder Executivo, que já começou.

A analogia que vem à mente é o chamado derretimento do núcleo, que acontece nos acidentes em usinas nucleares. Consiste em um processo, quase sempre resultante de erros humanos, de superaquecimento do reator, que conduz à liberação de material radioativo no meio ambiente e coloca em risco todas as formas de vida.

No plano institucional, estamos no limiar de um fenômeno desse tipo. O perigo é real.

No desgoverno caótico do capitão Bolsonaro, o Poder Executivo está parando de funcionar ou não funciona mais. Ele não é apenas o pior presidente de todos os tempos, mas também o que menos trabalha, menos se dedica às suas obrigações. Faz tempo que sua agenda é subordinada a uma única obsessão: a busca da reeleição.

Não é a primeira vez que, no Brasil moderno, temos um chefe de governo que não sabe ou não consegue governar. Em função de seus erros, Collor perdeu condições de governabilidade com pouco mais de dois anos de mandato. Dilma sofreu um golpe, no início do segundo, que impediu que governasse. Quanto a Sarney, Itamar e Temer, os três não receberam mandatos próprios e assumiram o governo por impedimento dos titulares, o que sempre limitou sua autoridade.
O caso do capitão é pior. Nos anteriores, o sistema político conseguiu compensar, pelo menos em parte, a ausência da capacidade governativa pessoal do presidente. Em alguns casos, com sua colaboração: Sarney se apegou à “liturgia do cargo”, Collor tentou um ministério de “notáveis”; Itamar logo promoveu a transição para um novo governo. Sem sua ação, as crises que enfrentaram teriam sido piores.
Bolsonaro não tem as qualidades de seus antecessores e seu governo é feito com gente sem preparo e respeitabilidade. É impossível esperar dele um gesto de honra e grandeza. Sua equipe é de última categoria. Estão há dois anos e meio à frente do Executivo e não conseguiram fazer qualquer coisa em benefício da maioria.

Bolsonaro é o rosto de um governo responsável por uma catástrofe sanitária, com centenas de milhares de mortes evitáveis. É causador de uma crise na economia que produziu 15 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados e 33 milhões de pessoas subutilizadas. É culpado por um imenso retrocesso nas políticas ambientais, justo quando o mundo afunda em uma crise climática que pode ser terminal. Sob seu comando, a educação foi desorganizada, jogando fora décadas de avanços e se transformou em séria ameaça ao futuro
E ele só quer saber de como se manter no poder, custe o que custar.

 

JORGE RORIZ