Lideranças indígenas criticam discurso de Bolsonaro na ONU

Representantes das principais associações indígenas do país dizem que jovem levada por Bolsonaro à ONU não tem representatividade no movimento; presidente defendeu a exploração econômica de terras indígenas e disse que discurso ambiental oculta interesses estrangeiros em relação à Amazônia.

A BBC News Brasil ouviu líderes da Associação do Território Indígena do Xingu (Atix), da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), da Associação Floresta Protegida (AFP) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) — entidade que agrega associações de todas as regiões do país e representa os 305 povos indígenas brasileiros.

Todos repudiaram o discurso de Bolsonaro, defenderam o cacique Raoni Metuktire de críticas feitas pelo presidente e afirmaram que Ysani Kalapalo — jovem indígena que integrou a comitiva presidencial na ONU — não tem representatividade no movimento indígena brasileiro.

Líderes indígenas brasileiros que estão em Nova York para a Cúpula Climática da ONU convocaram uma coletiva de imprensa para se pronunciar sobre a fala do presidente.

Bolsonaro se referiu várias vezes aos indígenas brasileiros ao defender as políticas de seu governo em relação à Amazônia e ao criticar o que ele considera uma ingerência indevida de estrangeiros na região.

Ele fez a primeira menção aos grupos ao se referir às queimadas na Amazônia, tema que ganhou o noticiário global nos últimos meses. Bolsonaro disse que “o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas” nesta época do ano, e que “existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência”.

Coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara diz que comunidades nativas fazem, sim, pequenas queimadas para abrir roças, mas que “o incêndio florestal (de larga escala) não é uma cultura dos povos indígenas”.

“Ele utiliza essa informação sobre nossas queimadas para esconder todo o desmonte da política ambiental autorizado por ele”, afirma Guajajara, que foi candidata a vice-presidente na chapa liderada por Guilherme Boulos (PSOL) na eleição de 2018, vencida por Bolsonaro.

A maioria dos incêndios que consomem florestas brasileiras nos últimos meses tem ocorrido fora de terras indígenas. Por estarem mais preservadas, essas áreas retêm mais umidade e estão menos sujeitas a queimadas descontroladas.

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JORGE RORIZ