Médico cobra posicionamento do Conselho Federal de Medicina sobre kit covid

Bruno Caramelli cobra posicionamento do Conselho Federal de Medicina sobre kit covid

Para ele, o intuito é conseguir, junto ao Ministério Público Federal, a proibição dos medicamentos prescritos como tratamento precoce da covid-19, o qual não existe

Abaixo-assinado criado por médico da USP cobra posicionamento do Conselho Federal de Medicina, que até o momento se omite, sobre a prescrição de tratamento precoce contra a covid-19. O intuito é conseguir, junto ao Ministério Público Federal, a proibição do ineficaz kit covid, formado por ivermectina, cloroquina e hidroxicloroquina. Após um ano desde os primeiros casos confirmados de coronavírus no País, os medicamentos continuam sendo prescritos por alguns médicos, mesmo com estudos que comprovam a ineficácia das drogas contra a infecção.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Bruno Caramelli, do Departamento de Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), diretor da Unidade Clínica de Medicina Interdisciplinar em Cardiologia do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC), explica que a iniciativa parte de sua perspectiva como cidadão perplexo com a atual situação da pandemia no País, após a crise de oxigênio no Amazonas e a persistência do Conselho Federal de Medicina em não se pronunciar contra a recomendação ineficaz do tratamento precoce.

O professor informa que o único tratamento precoce existente contra o coronavírus é o uso de máscara, álcool em gel e evitar aglomerações.  “Não existe tratamento curativo para a covid-19. Existem alguns tratamentos específicos para pacientes graves internados em que o corticoide pode ser efetivo, e só. A entrada na Unidade de Terapia Intensiva até pode ser um tratamento preventivo, porque é prevenir que o indivíduo morra, e acima de tudo a vacina, esse é o tratamento eficaz que nós temos”, e frisa que não há comprovação científica que favoreça o kit covid: “Com um ano de evolução, não tem nenhuma evidência a favor de qualquer outro tratamento, muito menos o tratamento precoce, encabeçado pela cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina”.

Caramelli diz ter ficado preocupado porque, mesmo após um ano de pandemia, o Conselho Federal de Medicina ainda mostra abstenção quanto à ineficácia dos tratamentos precoces: “Se não tem evidências comprovadas cientificamente, não pode recomendar, ao contrário, tem que condenar, e o Conselho Federal de Medicina não está fazendo isso”.

O abaixo-assinado, que pode ser acessado clicando aqui, já conta com mais de 4.910 assinaturas de profissionais da saúde, ex-presidentes de entidades médicas e cidadãos. Atualmente, a ação já foi protocolada junto ao Ministério Público Federal, solicitando a cobrança de um posicionamento condenatório do Conselho Federal de Medicina contra o kit covid. Desse modo, a contraindicação do CFM embasará a possibilidade de “interromper essa cadeia maligna, para não dizer perigosa, de um tratamento que não funciona e faz com que a gente desvie o olhar do que realmente importa”, finaliza o professor.

Jornal da USP

JORGE RORIZ