Moro fortalece o pior de Bolsonaro e seu governo

Publicado em 5 novembro, 2018 5:13 am

A Coluna de Jânio de Freitas na Folha de S.Paulo

“É significativo que mesmo a celebração do novo passo de Sergio Moro se sentisse compelida, em inúmeros casos, a listar impropriedades da sua conduta de juiz, como a gravação ilegal e divulgação de conversas de Lula, Dilma e outros; a liberação, a seis dias da eleição, de depoimento já antigo de Antonio Palocci contra Lula e o PT, e outras incorreções. Muitos dos que as citam agora ao tempo de suas ocorrências as aceitaram e até as defenderam. A gravidade que tiveram é, porém, reconhecida na rememoração a que poucos se negaram”.

Jânio desenvolve e caracteriza Sérgio Moro na futura gestão: “o passo a mais que Moro dá no seu projeto, como no projeto de que é parte, custa-lhe um bom pedaço do prestígio. Quanto se fortalece por explicitar sua aliança com Bolsonaro, supondo-se que o saldo lhe seja favorável,  tardará a sabermos. Certo, desde logo, é o inverso: Moro fortalece Bolsonaro. Já o faz na provável maioria da chamada opinião pública, e vai mais fundo. O problema é que fortalece o pior do esperável de Bolsonaro e seu governo: a combinação de autoritarismo e reacionarismo. O autor de arbitrariedades hoje reconhecidas até por seus apoiadores terá,
como ministro da Justiça, todos os poderes e habilidades da Polícia Federal sob seu controle. Se, nas ocasiões em que teve direção ministerial criteriosa, a PF não se poupou do chocante, pode ser
um instrumento perigosíssimo nas mãos de quem a utilize sem respeito aos limites éticos e legais”.

E o jornalista conclui: “Moro dizia que um cargo político lançaria dúvida sobre ‘a integridade do trabalho’ que fez até então. Integridade que tem o sentido de totalidade como o de retidão. É o próprio Moro, portanto, na condição de maior autorizado a falar do seu trabalho, quem o põe em dúvida no todo e na retidão. Nesse ponto, não custa concordar com Moro. Para concordância semelhante ou para confirmar decisões do (ex) juiz, será vergonhoso que, ao julgá-las em recursos, os magistrados tenham o olhar temeroso, oportunista e faccioso que levou à aceitação de muitas das sentenças e medidas inconvincentes de Sergio Moro. Os altos tribunais estão em dívida com os direitos da democracia”.

JORGE RORIZ