Pandemia varreu Trump e vai varrer Bolsonaro

Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia

Quando Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, em 2016, cientistas políticos identificaram o início de uma onda de extrema-direita comandada por Steve Bannon, estrategista da campanha e pioneiro das fake news na política.

Objetivo principal: transformar democracias em ditaduras em todo o mundo, a partir dos Estados Unidos.

Choveram livros alertando que democracias também morrem.

O mundo acreditou, assustado, que o nazismo voltaria com tudo.

Bolsonaro surfou nessa onda. O sucesso do apresentador de “O Aprendiz” apesar de ser tosco e grosseiro e de extrema-direita empolgou Jair Bolsonaro que resolveu imitá-lo. E até Bannon entrou na campanha presidencial tupiniquim usando as mesmas malandragens, como a lavagem cerebral em massa.

Eleito presidente, Bolsonaro só faltou ficar de joelhos para Trump. E julgou que seu amor seria correspondido. Sonhou até em colocar seu 02 no posto de embaixador no país de Trump. Imaginou que sua aliança com Trump duraria para sempre. E eles unidos seriam os reis das Américas!

E depois conquistariam o mundo, tal como planejam os protagonistas do desenho animado “Pinky e o Cérebro”.

Muita tinta e muito papel foram gastos pelas melhores cabeças para elaborar estratégias que impedissem ou inibissem os projetos autoritários de Trump e de Bolsonaro. Nada, no entanto, parecia ser capaz de barrá-los. Quanto mais ofendiam e humilhavam, quanto mais conflitos criavam, mais a popularidade subia. Nada os atingia.

Trump entrou em 2020 na condição de favorito à reeleição: a economia estava bombando, nunca foram criados tantos empregos. Parecia imbatível. Era o super-herói. Não havia kriptonita que o abalasse.

Bolsonaro estava tranquilo: enquanto Trump estivesse forte, ele também estaria. Enquanto fosse aliado do homem mais poderoso do mundo, o mundo, se não o respeitasse, ao menos o temeria.

Achando que estava por cima da carne seca, entrou numa de cantar de galo. Brigou com Merkel, com Macron, com Alberto Fernandez. Ofendeu a China. Ameaçou guerra com a Venezuela.

Tal como o menino que provoca os mais velhos e na hora da briga chama o irmão mais velho. “Cuidado comigo, o homem mais poderoso do mundo é meu amigão e vai bater em vocês”!

Até que veio a pandemia.

E Trump deu para meter os pés pelas mãos. Brigou com a OMS. Minimizou a maior pandemia dos últimos 100 anos. Insurgiu-se contra as recomendações de prevenção e de lockdown. Claro, isso afetou seus negócios, fechou seus hotéis, clubes e cassinos.

As consequências não tardaram: seu país ganhou o troféu de lata na luta contra a covid-19. Campeão em infectados, campeão em mortes. O país mais poderoso do mundo não conseguiu proteger seus cidadãos.

O discurso de Trump começou a ruir. Como sustentar o “make America great again” se o país dizimava seus cidadãos por incúria do presidente? O mundo se perguntava como era possível o país mais rico e poderoso de todos ser o mais vulnerável de todos.

Bolsonaro seguiu à risca as lições do mestre. Tal como Trump chamou a pandemia de gripezinha. Pôs-se a recomendar medicamentos sem ser médico. Brigou com a OMS, com governadores, prefeitos, com seus ministros da Saúde e agora briga com a vacina.

Os altíssimos números de infectados e de mortos atestam que fez tudo errado e continua errando.

Coincidência ou não, tanto Trump quanto Bolsonaro despencam em popularidade desde a eclosão da pandemia.

Trump conseguiu o feito de não se reeleger, o que é raro na história americana. Esperneia contra o resultado, mas aceitá-lo é questão de dias. Biden assume a 20 de janeiro de 2021.

O Brasil está dizendo “não” a Bolsonaro nessa eleição municipal.

Somente em uma das 26 capitais onde haverá eleição um aliado seu tem chance de ir ao segundo turno – em Fortaleza.

No Rio, seu reduto eleitoral, Crivella não demonstra potencial para sequer chegar ao segundo turno, quanto mais se reeleger, à medida em que Martha Rocha sobe de degrau em degrau e Paes já está no segundo turno – se não levar no primeiro.

Mas a situação mais constrangedora é a de São Paulo, onde nenhum candidato que tem ou teve alguma relação com ele conseguiu decolar.

Russomanno começou a desidratar desde o início da campanha na TV, quando se agarrou ao presidente. E não para de cair desde então, cumprindo a sina de nunca passar dos 13%, apesar de empregar, na reta final, o gabinete do ódio que foi despejado do Palácio do Planalto. Pelos ministros do STF, não por Bolsonaro.

Sua ex-líder, Joice Hasselmann, não consegue sair dos últimos postos, tal como Artur Mamãe Falei, um de seus seguidores mais fieis.

Até mesmo Márcio França, que vê qualidades nele, e teve um encontro pessoal com ele, sofre o efeito Bolsonaro e estancou.

Mas o pior é que tudo indica que o segundo turno será disputado entre Covas e Boulos. Tudo o que ele não queria.

Daqui em diante, Bolsonaro terá de se virar sem Trump e sem Bannon, sem nenhum aliado de peso no mundo e sem aliados no Brasil, a não ser o imprevisível centrão. Ele já aprendeu que não vai poder fechar o STF “com um cabo e um soldado”; se quiser ficar no poder tem que ganhar no voto em 2022.

E seu maior adversário daqui até lá, mais que os partidos de oposição, mais que os generais que humilhou, mais que seus desafetos será a pandemia.

E essa é impossível derrotar com fake news, a única arma de que dispõe e sabe usar.

JORGE RORIZ