Pazuello entra em contradição no depoimento à PF com documentos oficiais

Em depoimento à Polícia Federal, o ministro da Saúde contradisse documentos oficiais. Eduardo Pazuello mudou a data em que afirma ter sido informado sobre o colapso do abastecimento de oxigênio em Manaus. O ministro é investigado em um inquérito do Supremo Tribunal Federal que apura se houve omissão dele no combate à pandemia no Amazonas.

No depoimento, o ministro afirma que não foi informado sobre a falta de oxigênio em Manaus no dia 8 de janeiro e, sim, dois dias depois, na véspera da viagem que fez à capital do Amazonas. O fornecimento de oxigênio hospitalar entrou em colapso na cidade logo depois, nos dias 14 e 15 de janeiro. O depoimento de Eduardo Pazuello à Polícia Federal contradiz documentos oficiais do governo e o que o próprio ministro disse em entrevista coletiva em janeiro.

O depoimento foi publicado na edição deste sábado (27) do jornal O Estado de São Paulo. A TV Globo também teve acesso ao documento. À PF, Pazuello afirma que só no domingo, dia 10 de janeiro, às 21 horas, realizou uma reunião com o governador do estado do Amazonas. E, nessa oportunidade, foi relatado um problema de abastecimento de oxigênio no estado e que, no dia 11, convocou uma reunião com todos os secretários municipais de Saúde do Amazonas e o secretário estadual para entender a abrangência da falta de oxigênio e demais óbices, dificuldades, no atendimento à saúde.

Mas em um documento da Advocacia-Geral da União, entregue ao STF, o ministro José Levi afirmou que o Ministério da Saúde ficou sabendo da falta de oxigênio em Manaus no dia 8 por um e-mail da empresa White Martins, fabricante do produto. Um relatório do próprio ministro da Saúde, enviado à Procuradoria-Geral da República, traz a mesma informação. Nele, o ministério afirma que a gravíssima situação dos estoques de oxigênio hospitalar em Manaus chegou ao conhecimento do ministério no dia 8 de janeiro por meio de um e-mail enviado pela White Martins, em comunicado daquela empresa à secretaria estadual de Saúde do Amazonas, datado de 7 de janeiro, explicando o possível desabatecimento, indicando ao estado buscar outras fontes para o produto.

O relatório é citado no pedido de abertura de inquérito, feito pela PGR, para investigar se houve omissão do ministro Eduardo Pazuello no agravamento da crise sanitária no Amazonas. Em entrevista coletiva no dia 18 de janeiro, o ministro também afirmou que foi avisado pela empresa no dia 8 de janeiro.

“No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão a partir de uma carta da White Martins de que poderia haver falta de oxigênio, se não houvesse ações para que a gente mitigasse esse problema. Nós tomamos conhecimento de que a White chegou no seu próprio limite quando ela nos informou. Ou seja, se nós tivéssemos tido essa informação, por menor que seja, ou se nós fizemos imediatamente quando nós soubemos. Nós só soubemos no dia 8 de janeiro. Quando nós chegamos lá no dia 4, o problema não era oxigênio”, declarou o ministro.

Mas no depoimento à Polícia Federal, Pazuello afirmou que o documento nunca foi entregue oficialmente ao Ministério da Saúde, bem como a empresa nunca realizou contatos informais com representantes do ministério. E quando foi questionado sobre o relatório do ministério que cita o e-mail da White Martins, Eduardo Pazuello disse que houve um equívoco por parte de um servidor do Ministério da Saúde ao subsidiar a AGU com informações que foram apresentadas a ADPF 756, que é uma outra ação no Supremo em que partidos de oposição pedem que o STF obrigue o governo federal a adquirir vacina contra a Covid-19. Pazuello afirmou ainda que o equívoco se deu em virtude do prazo exíguo de 48 horas para dar a resposta ao STF.

Esse inquérito no STF é sigiloso. Além de ouvir funcionários de empresas, do ministério e autoridades locais, os investigadores vão checar trocas de e-mails entre os representantes das secretarias do Amazonas, de Manaus e do Ministério da Saúde. A princípio, o prazo para concluir a investigação vai até o mês de março.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que Pazuello teve conhecimento do colapso de oxigênio em Manaus não no dia 10 de janeiro, como o ministro afirmou em depoimento à Polícia Federal. Mas apenas no dia 11 de janeiro. Questionado, o Ministério da Saúde ainda não explicou essa diferença de data. Na nota, o ministério disse que, no dia 8, Pazuello recebeu uma ligação do secretário estadual de Saúde do Amazonas solicitando apoio no transporte de cilindros de oxigênio, sem mencionar nenhum colapso. Segundo o ministério, ainda no dia 8, cilindros de oxigênio foram levados de Belém para Manaus.

A Advocacia-Geral da União informou que não comenta processos em curso. A empresa White Martins disse que, assim que detectou um crescimento anormal do consumo de oxigênio em Manaus, logo na primeira semana de janeiro, avisou imediatamente sobre o problema ao governo do Amazonas, que é com quem a empresa tem o contrato. Segundo a empresa, a comunicação foi por e-mail, enviado ao gabinete da secretaria de Saúde do Amazonas, no dia 8 de janeiro.

JORGE RORIZ