Por que o golpe de Estado de Bolsonaro fracassou no 7 de setembro?

Artigo de Fernando Horta e Gustavo Conde  mostra porque a insurreição planejada por Bolsonaro para desencadear um golpe de estado fracassou no dia 7 de setembro passado. Os eventos que levaram à tentativa de golpe de estado planejado por Bolsonaro consistiram no seguinte:

Ocupação no dia 6 de setembro dos hotéis de baixo preço de Brasília com um bom número de pessoas com pouca capacidade financeira que estavam sendo financiadas por grupos bolsonaristas. No dia 06, quase todos os hotéis mais baratos de Brasília estavam lotados.

A partir das 12 horas do dia 06, a PM do Distrito Federal iniciou os planos de isolamento da região central da cidade (a esplanada dos ministérios) como parte do plano de segurança da área.

Por volta das 18 horas, numa ação claramente planejada nos moldes militares, um grupo de cerca de 600 bolsonaristas passaram a retirar as barreiras e os isolamentos e abrir espaço para os grandes caminhões que já estavam na cidade sem a oposição da PM do Distrito Federal que é a mais bolsonarista do país.

Ibaneis, o governador bolsonarista do DF convenientemente não estava em Brasília.

Estava tudo feito para ocorrer a sedição da PM de Brasília que seria o aviso para que o movimento incendiasse as PMs no país inteiro.
Bolsonaro contava com pelo menos 1 milhão de pessoas em Brasília no dia 7 de setembro e, com isso, a pressão sobre as outras polícias dos Estados seria insustentável incendiando o país.

Tudo se passaria com a desordem tomando conta do país que abriria caminho para Bolsonaro convocar as Forças Armadas para acabar com a desordem no país consolidando o golpe de estado.

As Forças Armadas esperavam primeiro a insurreição popular prometida por Bolsonaro para então apoiarem o levante. Estavam naquela madrugada de 6 de setembro, portanto, aguardando a insurreição.

Esse movimento golpista não passou despercebido pelo STF e por todo o aparato de inteligência por ele montado.

Quando vários atores políticos bolsonaristas passaram a ligar incessantemente para o governador do DF, Ibaneis, e usar suas redes para proclamar o estopim do golpe, essa “gritaria” chegou ao presidente do Supremo que, com a corte em uníssono, entrou em contato direito com a PM do DF exigindo providências.

O STF não é a autoridade imediata a que a PM precise dar satisfação porque as PMs estão subordinadas aos governos estaduais e ao Exército e aí veio o segundo golpe de mestre do STF.

Ainda no dia 6 de setembro, o presidente do STF, Fux, ligou direto para os comandantes militares, ainda durante a madrugada, avisando que, caso as PM’s seguissem o comportamento golpista, ele (Fux) convocaria as Forças Armadas para deter os manifestantes.

O que o STF fez foi exigir uma posição imediata do Exército. Do ponto de vista do STF a ação era simples. Caso o Exército negasse a ordem de Fux, o golpe estaria consumado. Não atender a demanda do STF, elevaria exponencialmente o custo para os militares. Na prática, tivessem os militares desobedecido Fux, os comandantes militares seriam processados por insubordinação e sairiam culpados de sedição. O preço era alto demais. A exigência da decisão ainda no dia 06 quebrava o plano bolsonarista.

Caso a insurreição fosse bem sucedida, Bolsonaro faria da Avenida Paulista apenas seu palco de completo sucesso.

No dia 8 de setembro, os caminhoneiros fizeram várias ações paralisando várias rodovias para reforçar a insurreição de 6 e 7 de setembro. Esta ação fracassou porque não houve a insurreição planejada com a sedição dos policiais militares seguida da intervenção das Forças Armadas.

Segundo Fernando Horta e Gustavo Conde uma figura trabalhou para neutralizar o golpe, Alexandre de Morais, que, de posse das informações de inteligência mapeava o financiamento dos movimentos e bloqueando as contas certas e as chave-pix asfixiava os financiadores de Bolsonaro.

Muitas “caravanas” de locais perto de Brasília não puderam sair por conta da falta do dinheiro. O resultado foi o pífio número de apoiadores para que Bolsonaro fizesse o que tinha planejado. Como era possível ver em Brasília, tinha muito mais carro do que gente. O outro ator que, na ausência do governador Ibaneis do DF, em silêncio, agia para viabilizar o golpe de estado, foi o vice-governador do DF atuando diretamente com as PM’s. O comportamento dual do governo do DF, ora apoiando Bolsonaro, ora obedecendo o STF, era em si golpista. Mas o vice governador recuou porque compreendeu que recairia sobre ele toda a culpa de uma malfadada sedição que ocorresse nas PM’s de Brasília. Novamente, o STF aumentava o custo da tomada de decisão e o vice precisou garantir as PM’s na linha.

Pelo exposto, pode-se afirmar que o golpe de estado de Bolsonaro fracassou graças à pronta ação do STF quando aumentou o custo das ações políticas dos agentes bolsonaristas envolvidos na tentativa de insurreição e diminuiu o acesso destes agentes às informações que precisavam para a tomada de decisão. A carta de rendição de Bolsonaro levada ao conhecimento público no dia 8 de setembro não significa seu abandono à tentativa de um novo golpe de estado. Ele tem mais um ano para planejar outro golpe de estado caso não seja afastado da presidência da República pelos crimes que vem praticando impunemente.

 

JORGE RORIZ