Pronunciamento de Bolsonaro – Repercussão

Nesta quarta- feira, o presidente Jair Bolsonaro, fez um pronunciamento à nação. Ele culpa a imprensa pelo pânico da população, e diz ser contra o fechamento de Escolas.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (24), em pronunciamento na cadeia nacional de rádio e televisão, que a vida dos brasileiros deve continuar e os empregos serem mantidos diante da pandemia de coronavírus.

“O que tínhamos que conter naquele momento era o pânico, a histeria. E, ao mesmo tempo, traçar a estratégia para salvar vidas e evitar o desemprego em massa. Assim fizemos, quase contra tudo e contra todos”, disse Bolsonaro ao comentar a estratégia adotada pelo governo com a chegada dos primeiros casos de coronavírus no Brasil.

Bolsonaro contou que foi aceso um “sinal amarelo” desde a operação do governo coordenada para resgatar brasileiros na China, no início de fevereiro. “Sabíamos que mais cedo ou mais tarde o coronavírus chegaria ao Brasil”,

“O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa.”, enfatizou.

Bolsonaro também comentou o papel da imprensa na divulgação de informações a respeito da pandemia. De acordo com ele, “grande parte dos meios de comunicação foi na contramão” e “espalharam exatamente a sensação de pavor”.

“Tendo como carro chefe o anúncio de um grande número de vítimas na Itália, um país com grande número de idosos e com um clima totalmente diferente do nosso. Um cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma verdadeira histeria se espalhasse pelo nosso país”, apontou o presidente.

O presidente do Senado, David Alcolumbre contestou o pronunciamento do presidente:

“Neste momento grave, o país precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população. Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de ataque às medidas de contenção ao Covid-19”, afirmou Alcolumbre.

Na Bahia, o governador Rui Costa (PT) rebateu os comentários do presidente da República e afirmou: “Chega de discursos vazios e delírios”.

Ainda de acordo com o governador baiano, o coronavírus não se trata de uma “gripezinha”, como insinuou Bolsonaro ao defender o fim do isolamento e a reabertura do comércio, de escolas e universidades durante o surto mundial do vírus. Estas, inclusive, foram medidas adotadas através de decreto assinado por Rui.

“Vou continuar trabalhando em defesa da vida. Olhar nos olhos das pessoas e dizer: estamos numa guerra. ACORDA. Temos que vencê-la. Chega de discursos vazios e delírios. Vamos trabalhar mais e mais. Responsabilidade. Todos contra o coronavírus”, declarou o governador através de sua conta o Twitter.

Após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro , o secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas Boas,  entende que não se ‘deve politizar o problema’ da pandemia do novo coronavírus. “Já temos problemas demais pra gerir. Não podemos cometer esse erro. Vamos continuar fazendo nosso trabalho”, disse.

“Pelo presidente seja a do Ministério da Saúde, que tem se conduzido tecnicamente. Mas essa fala atrapalha não só o ministro mas todos nós”, avaliou.

O prefeito de Salvador, ACM Neto, criticou duramente o presidente Bolsonaro:

“Confesso que ontem fiquei duplamente perplexo, de um lado como prefeito e do outro como cidadão. Considero que as declarações do presidente são lamentáveis e inaceitáveis. Nós temos feito esforço absurdo, prefeitos e governadores de todo o Brasil para adotar medidas de diminuição do fluxo de pessoas nas ruas. Sabemos o impacto que todas essas medidas têm na economia. No entanto, tenho procurado ao máximo evitar aumentar a temperatura do debate político nesse político. Acho que neste momento temos que deixar a política de lado e dar as mãos para enfrentar a mais grave crise”, enfatizou nesta manhã durante inauguração de centro de acolhimento em Salvador.

“Considero a declaração do presidente também irresponsável. A essa altura do campeonato o que a gente precisa é união de todos. O presidente quando trata o que estamos enfrentando como um a ‘gripezinha’, ele também está desconsiderando a dor e o sofrimento das famílias que já perderam seus entes. De pessoas que morreram com o coronavírus. Ele está desrespeitando as pessoas que estão neste momento enfermas, reclusas, em isolamento. Está desconsiderando o sacrifício que todos estamos fazendo e o risco que todos estamos correndo. Nós não somos irresponsáveis. Nós estamos tratando de vidas humanas”, reforçou

O secretário diz saber que iremos enfrentar uma grave recessão econômica, mas “o que nos cabe lidar diretamente é a crise sanitária”. “Vamos seguir tocando nossas vidas com decisões baseadas em evidências científicas seguindo exemplos bem sucedidos ao redor do mundo”, completou Fábio.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, usou o Twitter para condenar o discurso. “Entre a ignorância e a ciência, não hesite. Não quebre a quarentena por conta deste que será reconhecido como um dos pronunciamentos políticos mais desonestos da história.”

Também num tuíte, Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, afirmou: “A pandemia do #covid19 exige solidariedade e co-responsabilidade. A experiência internacional e as orientações da OMS na luta contra o vírus devem ser rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez. #FiqueEmCasa”.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) considerou a fala do presidente irresponsável e um desserviço à população. “Assistimos ontem estarrecidos ao pronunciamento do presidente da República em direção contrária às recomendações do próprio Ministério da Saúde, de organizações de saúde internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, de cientistas e de governos de todo o mundo. Em um momento crítico como este, esperávamos ouvir um pronunciamento do chefe de Nação que trouxesse medidas efetivas para o enfrentamento da pandemia, orientações bem fundamentadas, escoradas na experiência de outros locais, no conhecimento científico acumulado e nas instituições e profissionais da saúde.”

Para a SBPC, o pronunciamento significou um desserviço às ações consequentes de enfrentamento do coronavírus que estão sendo sugeridas e implementadas pelo próprio Ministério da Saúde “É preciso que os poderes constitucionais brasileiros assumam as suas responsabilidades e impeçam atitudes irresponsáveis, mesmo que da autoridade máxima da Nação, que colocam todo o País em risco. Esta conjuntura exige união da sociedade brasileira, lideranças firmes e responsáveis e que estejam à altura do momento, para se que se possa enfrentar com êxito uma pandemia que poderá trazer sérias consequências para o povo brasileiro.”

Na mesma linha, a Sociedade Brasileira de Infectologia critica a classificação dada pelo presidente à doença: “resfriadinho” e se mostrou preocupada com a “falsa impressão” dada por ele de que as medidas anunciadas são inadequadas.

“Neste difícil momento da pandemia de Covid-19 em todo o mundo e no Brasil, trouxe-nos preocupação o pronunciamento oficial do presidente da República Jair Bolsonaro, ao ser contra o fechamento de escolas e ao se referir a essa nova doença infecciosa como ‘um resfriadinho’. Tais mensagens podem dar a falsa impressão à população que as medidas de contenção social são inadequadas e que a Covid-19 é semelhante ao resfriado comum, esta sim uma doença com baixa letalidade. É também temerário dizer que as cerca de 800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália, realmente a maioria entre idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia é grave, pois até hoje já foram registrados mais de 420 mil casos confirmados no mundo e quase 19 mil óbitos, sendo 46 no Brasil”, afirma o presidente da entidade, Clóvis Arns da Cunha.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), , considera “temerário” o discurso de Jair Bolsonaro. “Incentivar os brasileiros que têm a possibilidade de permanecer em casa a voltarem às ruas pode ter consequências trágicas. Ademais, é um desrespeito com os profissionais de diversas categorias — como médicos, enfermeiros, policiais, bombeiros, motoristas, entregadores, funcionários de mercados e muitos outros — que se expõem diariamente ao risco, por exercerem funções que não podem ser interrompidas”, afirmou.

Outros políticos também criticaram o presidente porque ele vai de encontro as recomendações da Organização Mundial de Saúde e dos médicos e infectologistas que aconselham que a população não saia de casa.

Assista o  vídeo do pronunciamento do presidente

JORGE RORIZ