Vacina não garante volta à normalidade

“Não existe bala de prata no momento e talvez nunca exista”, alertou o diretor-geral. “Há uma preocupação de que talvez não tenhamos uma vacina que funcione. Ou que a proteção oferecida possa durar apenas alguns meses, nada mais”, afirmou, o Diretor-geral da OMS, Tedro Adhanom Ghebreyesus.

“Alguns gestores já estão achando que a vacina vai resolver tudo, que a vida vai voltar ao normal, que não é preciso mais fazer distanciamento”, enumera Cristiana Toscano, representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Goiás e membro do Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização da OMS. “Isso é muito preocupante porque o Sars-Cov2 claramente não vai desaparecer rapidamente, ele vai ficar entre nós.”

Segundo a pesquisadora, o otimismo existe, mas precisa ser realista. “É ótimo termos um número recorde de vacinas sendo desenvolvidas, achamos que mais cedo ou mais tarde uma delas vai dar certo. Mas, de fato, não temos nenhuma pronta, nem garantias, e não sabemos quando teremos.”

Apesar de o novo coronavírus pertencer a uma família viral já bastante conhecida e de ser um vírus estável (diferente do HIV, por exemplo, que sofre muitas mutações), historicamente, apenas uma em cada dez substâncias que chegam à fase final dos testes se transforma, de fato, em vacina.

“A fase 3 é, justamente, a mais complexa, é ela que avalia a eficácia do produto, que diz se ele consegue prevenir ou não a infecção”, explica o virologista Flávio Guimarães da Fonseca, pesquisador do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG. “A taxa de sucesso nesta fase clínica é de 10%, e é preciso lembrar que nunca se gerou uma nova vacina numa velocidade tão alta; esse açodamento pode ter um preço.”

JORGE RORIZ